OS MAUS PERDEDORES E A RESISTÊNCIA DOS PERREXÉS

Dulce Gusmão e Fred Goes em 2006, comemorando mais vitoria do Garantido

Vivemos em uma democracia, e é claro que euzinha, nunca negaria um pedido da minha mais amada amiga e jornalista DULCE GUSMÃO, então conforme o solicitado, eis na integra o seu desabafo quanto a saida do David Assayag do Boi Garantido.

OS MAUS PERDEDORES E A RESISTÊNCIA DOS PERREXÉS
Por Dulce Gusmão
Especial para o blog da Lydia Lúcia

Em 2006, quando Vicente Matos ganhou a primeira eleição no Garantido, com David Assayag a favor, e contra Telo Pinto e a Comissão de Arte do boi bumbá vermelho e branco, vimos Fred Góes e Telo se recusarem a participar daquela diretoria. Nós, os loucos torcedores, tivemos que assistir de camarote, com preocupação, a saída de dois expoentes do boi Garantido e a dissolução da Comissão de Arte como conhecíamos até então.
Sem entrar nos méritos da decisão dos dois, ouso opinar que este é um direito legítimo e inalienável de quem está insatisfeito. No entanto, em nenhum momento, ouvi qualquer um deles anunciar sua ida para o boi contrário - ouso opinar novamente - um pecado capital para quem mora e tem coração na Nação Vermelha e Branca. E olha que, refrescando a memória cabocla, Fred Góes tinha perdido, junto com a eleição, a produção do CD do Garantido – que vinha realizando desde 1996 -, e a presidência da Comissão de Arte de uma só tacada. Ou seja, tinha motivos de sobra para amarrar sua canoa onde bem entendesse...
Ainda sem entrar nos méritos – desta vez das negociações -, quando o Tum Tum dos batuqueiros da Baixa ecoou na Arena, Fred e Telo, estavam lá, junto a Chico Cardoso, loucos na torcida – e no trabalho - pela vitória do único boi capaz de roubar coração.
Eleição é um instrumento democrático. De novo, sem entrar nos méritos – desta vez de justiça e cidadania na eleição democrática – há quem ganhe e há quem perca. Resta aos perdedores a dignidade de fazer oposição responsável, de fazer valer sua voz, de provar que sua insatisfação não vem simplesmente do bolso - superfície rasa de quem vende a alma por vinténs escusos - mas das entranhas de amor e dedicação de quem quer ver seu País amadurecer, crescer e prosperar.
Na história, alguns opositores memoráveis me alcançam: Al Gore virou líder mundial da paz e ecologia após perder para Bush Júnior em vitória, roubada, que expôs a fragilidade da democracia dos Estados Unidos. Nunca sucumbiu à mágoa. Resultado: Assistiu de cadeira a vitória espetacular de Barack Obama, o primeiro negro a chegar ao poder maior naquele país.
E Nelson Mandela? Amargou, na prisão, suas derrotas. Não virou terrorista, não abandonou seu País, e saiu da prisão para ser presidente e assistir de camarote a uma África do Sul mais madura e justa.
Falando de eleição no Garantido, ouso perguntar aos loucos torcedores: o que queremos ver no combalido Garantido de hoje?
Ouso, como louca torcedora, responder: Dignidade, gente que brigue por esse boi como nenhum outro, gente que brigue pela dignidade dos nossos artistas, pelo pagamento das dívidas, por um bom espetáculo na arena, por um boi que faça valer o amor incomensurável da galera vermelha e branca.
Telo Pinto ganhou essa chance voto a voto. Aos loucos torcedores que perderam a eleição, resta fazer oposição responsável por amor ao Garantido. E oposição responsável não é inventar histórias desestabilizantes do tipo “os artistas de Parintins que apoiaram o Flávio receberam uma carta dizendo que eles estão fora do boi por quatro anos”... Ora, ouso novamente opinar, na atual conjuntura, isso é coisa de irresponsável que não se importa nem um pouco com a atual situação do boi Garantido. É coisa de gente que quer mais é ver o circo pegar fogo e jogar a lona no Rio Amazonas para o mundo ver...
Por isso, David, sua carta “melosa”, publicada neste respeitoso blog, não convence. Na minha memória de louca torcedora ecoa a voz dos principais jornais da cidade contendo a seguinte declaração: “Voltei para casa, de onde nunca deveria ter saído”. E, na contramão, do outro lado do cérebro, não me sai da memória, ave memória cabocla, a sua imagem cantando “Vermelho”, hino do boi Garantido e de Chico da Silva, em um programa de televisão nacional, junto a Fafá de Belém.
É obvio que você deve respeito ao Garantido e seus torcedores. Afinal, você foi fiel escudeiro de nossas melhores toadas, por tradição, muito melhores que as do Caprichoso. Me pergunto: Qual teria sido mesmo seu destino se você, em vez de “Vermelho”, tivesse que ter entoado na Arena o Iê Iê Iê da palma da mão de “Raça Azul” do Caprichoso? Plebeu, não tem voz que suplante músicas tão ruins!
Mas, desde que o mundo é Raimundo, Escolha é Escolha... Mágoa é Mágoa... Amor é Amor... Bolso é Bolso...e Perrexé é Perrexé...