Charlene, íntima dos coiotes


por Charlene Duvallier

Sempre ouvi falar que “coragem não é fome que dá em todo mundo” e eu tenho fome e coragem.

No Garantido, algumas figuras lendárias assombram os associados mais atentos, tipo: o mapinguari – lendário, enigmático, que quando vai pra frente na realidade está andando para trás, e com um olhar fulminante paralisa não só os inimigos, mas os “amigos” rastejantes também.

Outras figuras renascem do submundo, os itens “em extinção”, perigosos, pois vivem no mundo do “eu já fui e eu já fiz”.

Mas, existem categorias novas e ascendentes, tipo: Lady Keith, a que tem dinheiro novo, mas falta o glamour; Valdirene, aquela que precisa aparecer a todo custo e que tem a inteligência pura, ou seja, o boi não acontece sem o seu dedo de Midas; e uma personagem peculiar, a “Semdinheiro”, que vive na cola dos poderosos e é a amiga mais próxima de todos, sem exceção.

Enquanto isso, na arena, onde eu não perco nada, acontece a mais perfeita representação do Centenário. Abrindo os trabalhos na área reservada à imprensa, um “bunito” olheiro do lado azul se infiltra na área do Garantido e sai vermelho de tanto cascudo. Olha já!!! Não saiu do A na técnica de espionagem e já quer sentar na janela.

Uma cena me lembrou das historias da vovó Gigi, que conta a vez em que o Garantido entrou com uma ave gigante e, logo na entrada, a alegoria quebrou a asa... O apresentador, pávulo e se garantindo, não perdeu o rebolado: chamou a atenção para o incidente dizendo que caçadores cruéis tinham dado um tiro no pássaro. Ontem na arena, no inicio da evolução da sinhazinha, o vestido despencou, e como a genética da moça é boa, ela evoluiu segurando o lado direito da saia o tempo todo. Isso é comprometimento! Isso é Garantido!

Mais uma vez, a galera desceu da arquibancada e foi para arena... Enlouquecida, ligada em 220V... Será que é por isso que os bumbás deixam a galera fritando no sol de 40 graus em Parintins? Aliás, aqui existe um sol particular para cada visitante, marcando no corpo a corpo por toda ilha.

 E falando em ilha, os moradores dizem que o novo Bumbódromo está dentro de um curral, pois é tanta cerca que fica difícil saber o que é cidade livre.

Mudando radicalmente de assunto, meu querido Vandir Santos está bem, voltou ao trabalho, mesmo depois de um motoqueiro maluco atropelá-lo, deixando-o hospitalizado por 24h. Mano, maninho, quer matar alguém, por favor, não escolhe os artistas do Boi não, pega esses aventureiros no Boi, mas artista não!

Charlene não tem jeito... Critica até mesmo quando gosta!


Minha “picorucha” Charlene Duvallier não pode comparecer à coletiva, logo, tive que explicar tudo da forma mais resumida possível, pois a tagarela faz um verdadeiro interrogatório policial... Bom, Charlene, a  palavra de ordem na coletiva  de imprensa do garantido foi PLANEJAMENTO, e isso faz a diferença na apresentação do Boi Bumbá Garantido, ajudando a diminuir os riscos da improvisação.

Em um clima de descontração, o presidente da comissão de artes, Fred Góes relembra uma citação antiga da família Góes: “Boi não é  para muito novo nem muito velho. Se for muito novo pira e se for muito velho morre”, ilustrando quão séria deve ser a administração do boi, uma entidade sem fins lucrativos.

Em tom de desabafo, o presidente do Garantido,  Telo  Pinto, afirmou: o Garantido entra na arena com um gasto de cinco milhões e setecentos mil mas não posso dizer que  esse será o valor real  no final do Festival.  Completando, em muito, o sentido das palavras de Fred.

Ainda durante a coletiva, a diretoria do Garantido conversou sobre as três apresentações.  No ano do Centenário, o boi vai para arena com foco na sua própria história. Bom o melhor é esperar, ver e conferir.

Charlene, incansável, não se contenta. Diz que a minha narrativa é fria, sem emoção. Que ela nunca mais vai me deixar ir pra uma coletiva sozinha. Que não acredita que não teve nenhum barraco e diz que é impossível que uma coletiva do Garantido seja tão sem graça assim! Onde estão os atrasos, a desorganização, metade do povo pra lá e a outra metade pra cá, sem saber onde é realmente o evento?
Cansada, só confirmei que foi tudo como ela descreve, como quase sempre. Depois de uma gargalhada, ela continua a tortura.

Mas, sabedora que tortura é crime, ela agora começa a sua narrativa ininterrupta da primeira noite do Boi Bumbá Garantido.

Sinceramente, fofa, eu esperava um pouco mais de tudo, da coisa impactante dos primeiros cinco minutos, de ver na arena o Bairro de São José, a cara do Lindolfo curumim em alguma alegoria, de ver Parintins na arena.

Ficou difícil a vida do povo da imprensa para fazer imagens dos itens do Garantido. Fica todo mundo colado em um só ponto, não sei por que, pois a arena é gigante e o Garantido fez uma apresentação limpa, sem poluição visual, boa de fazer fotos lindas, mas... Fazer o que, comunicação é uma arte ainda a ser descoberta pelo nosso boi.

Para a primeira noite, achei que o boi Garantido teve uma tensão controlada, não vi o corre-corre na arena e isso foi ótimo. E o Telo ainda é o diretor de arena, sabia? Clemilton Pinto é estagiário.

Charlene, você não gostou de nada?

Gostei de muita coisa, mas principalmente da galera e, é claro, do Israel Paulain, que a cada ano fica mais lindo, mais perfeito, menino de ouro, como diria minha mãe. E você?

Eu gostei do que pode ser visto de acabamento, da linguagem, do clima na arena, de ver o Jairzinho Mendes mostrando o seu trabalho, de ouvir o nosso pajé fazendo o ritual. É complicado ver de uma forma técnica quando você é envolvida emocionalmente. Toda vez que a galera era acionada, eu chorava, lembrando de uma senhora que ficou na fila desde às 7 da noite de quinta-feira para ser o item 19, para tirar nota 10.

E a língua ferina não perdeu o rebolado... Nossa diretoria devia era pensar nessa nossa galera linda sempre! Destinar uma  pequena quantia do repasse e investir em mais adereços, usar a criatividade dos artistas e realmente fazer o item 19 aparecer no espetáculo e não ser somente um socorro quando a arena fica devagar. Mas essa não é a realidade, ou é?

Mudei de assunto rapidamente. Charlene você viu a apresentação do contrário?

Só o começo, mas adorei ouvir o levantador de toadas do lado de lá chamando o seu boi pra comer o sal, sem lembrar do Jo..ton, que completava a rima com coisas que você não vai poder escrever nesse respeitado blog. 

Bafo amiga, ela continuou: muita gente em Parintins se esqueceu de mudar de canal para ver o contrário... Hábito de ver tudo junto sempre... Que ratada dessa diretoria do contrário, hein? Mas vamos aguardar a segunda noite de espetáculo.

Charlene, horas antes do Festival





Frenéticas,angustiantes, TENSAS. É assim que Charlene me define as 24 horas que antecedem o 48o.Festival Folclórico de Parintins. Acelerada, com a metralhadora ligada no automático ela, como sempre, dispara:

Gente confusa é esse povo que nunca comeu melado e quando come se lambuza. Foi literalmente o que aconteceu com a coordenação de credenciamento do Festival. Saiu limando os dinossauros da imprensa amazonense, aquele povo que trabalhou na divulgação do espetáculo desde os tempos do Tablado e, hoje, na reinaguraçao do bumbódromo, cem anos dos bumbás, teve seus pedidos de credenciamento INDEFERIDOS. E sem direito de apelação.

Nestas muitas, diversas mudanças no Festival que mexem de maneira diferente com cada um dos atores, alguns egos ficam maiores, e muitos precisam ter seus nomes inscritos em letras douradas. Eu, euzinha, sem a mínima paciência, fico com vontade de gritar na cara destes: Ei povinho desavisado, nós não adoramos o bezerro dourado não, brincamos com um boi de pano mesmo. Ufa!!!

Centenário do Garantido, só novidades!



Estou eu, calmamente, trabalhando, querendo pagar todas as contas em dia, e meu telefone não para de tocar, toca repetidas vezes, é Charlene Duvallier...


Não tem bom dia, nem olá... E, como se tivesse inventado a roda ela dispara, excitada:
Estive no curral do Garantido e percebi que o levantador de toadas do nosso boi só canta as novas toadas, ou seja, de 2011 pra cá. Você sabia? Por quê?

Não sei. Responde ai Dine (Jeannie é um gênio)!

Bom... Eu pensei, pensei, pensei muito mesmo, eu sinto falta das poesias de: Flor de Tucumã, Geração Garantido, Luzes Rubras, todas as evoluções... Sinto falta daquela poesia da Baixa, que arrepia, que segura lá em cima a nossa emoção e que faz a gente chorar.

Sim... Charlene eu entendi. Mas onde você quer chegar?

O que a gente ouve hoje é refrão de aquecimento para a galera, sabe aquela coisa bem hits, bem contrário!... laalalallalalal, ô ô ô ô, ê, ê, ê. Ooooooooooooo, pappapapapappa.

E...

No curral mesmo eu tomei um susto, quase surtada: Tupã, grande Pai! Será que estamos vivendo o sepultamento da poesia melódica do nosso boi?  

Mas tem saída simples para isso: as toadas “antigas” não poderiam ser regravadas, os produtores do nosso Boi poderiam mudar a harmonia de algumas todas para encaixar na voz do levantador atual. Não poderiam?

Aí me dei conta que: E se amanhã tiver que mudar tudo de novo? Se o próximo levantador conseguir segurar as notas mais altas? Ai mana, é muita interrogação para a minha cabecinha quase loira... 

Charlene, você não tem que se preocupar com nada disso, você não é musicista, produtora musical, artista, cantora.  Você é só louca torcedora.

Mas o “peor” você ainda não ouviu...
Tem gente jurando de morte os produtores do CD Quem Manda é a Galera! Motivo? Eles buscaram referencia melódica, poética, nos CDs do Garantido dos anos 96 e 97, os CDs das toadas que até torcedor do contrário chora quando ouve.  

Pensas que parou por ai? Tem mais... O CD da Galera, presente oferecido por esses torcedor-produtores, para os outros torcedores comuns, loucos e apaixonados pelo Garantido, está com a “doação” proibida em alguns lugares em Parintins. Isso mesmo, proibida! E eu te pergunto: Você entende uma leseira dessas? É presente bom, de graça e entregue porta a porta.

Te incomodou amigo?   Faz melhor.