(Texto longo, se tens preguiça
de ler, sai logo do blog)
“... nos momentos difíceis, alguns deles
bem sacrificantes, muitas vezes desumanos e que são desconhecidos pela imensa
maioria de torcedores”. Marialvo Brandão-2021.
E as lembranças jorram em meus olhos, vejo na íntegra o
sentimento que essas palavras carregam, a doação incondicional à cultura popular, o viver acreditando que a sua contribuição ao fazer cultura merece respeito.
Sim,
ninguém é insubstituível! Mas eu aprendi, que você precisa saber, muito bem, o que vai “colocar no lugar” quando retira uma peça do
contexto, essa “substituição” é que precisa ser avaliada pelos estragos que ela possa fazer na engrenagem.
Ainda
vivendo as palavras do artista Marialvo Brandão, que com Roberto Reis, parecem
ter um só sobrenome Marialvo Brandão Roberto Reis,
Roberto Reis Marialvo Brandão - de tão unidos que são.
Lembro quando os conheci (não pessoalmente) em
2013, estava fazendo parte da assessoria para uma escola de samba, e precisa
listar nomes para compor a equipe de carnaval, e tio Chico Cardoso, indicou
Marialvo e Roberto, com a seguinte recomendação: “dá
uma olhadinha no
trabalho desses “meninos” são bons para #¿$?%!¡.”, olhei, admirei, adorei. Infelizmente, a direção foi para outro
caminho, mas me tornei super fã, seguidora cega
da dupla e sem vergonha de assumir minha idolatria.
Pegando
carona nas palavras de Marialvo, lembro de alguns fatos “desconhecidos”: a multiplicidade
dos talentos dos artistas de Parintins.
Memoria 1. Artista de galpão não têm hora para sair dos galpões de alegoria,
mudam de endereço, literalmente. Precisam
ser Magaiver e resolver com muita,
bastante, criatividade a falta de material ou
material adequado, e colocar na arena a melhor alegoria para ganhar do
contrário;
Memoria
2. Artista de galpão é extraterrestre, tem tecnologia na ponta dos
dedos, nas gavetas, na solda, no bolso, sei lá! Eu só sei que uma coisa,
é inimaginável, para os seres humanos normais, como eu. Pois, eles fazem brotar
efeitos na arena, na hora que tudo quebra,
tudo engata, tudo trava, não interessa a razão da
parada, a alegoria precisa ser perfeita aos
olhos dos jurados, torcedores e a coisa, VAI!!
Memoria
3. Artista de galpão precisa ser casado com SANTA. A esposa precisa entender o
período de ausência, curar as dores físicas e emocionais dos maridos sem
questionar os porquês, precisam alimentar a ele e equipe como filhos, mesmo quando
o Boi não os paga. E tem que estar feliz em todas as fotos.
Memoria
4. Artista de galpão
tem que ser falso! Quando o sincero faz cobranças, desabafos sobre os acordos
quebrados, tipo pagamento em atraso, material de segunda, etc., é chamado de grossos, intolerante, centralizador e ditador.
Memoria 5. Artista de galpão precisam ser omissos
socialmente! Não deve maldisser a gestão, não deve declarar voto, não deve se
envolver em polêmicas políticas, pois arrisca ser chamado mal-agradecido,
aquele que cospe no prato que comeu, traíra, judas, incompetentes, fdp e muito
mais. Precisa ser surdo, cego e mudo para permanecer na equipe de artistas nos
anos seguintes após uma eleição.
Minha memória particular 1. Vi, Marialvo Brandão
doente, entorpecido de remédios, no seu galpão, pegando chuva na concentração
com febre altíssima, todo entupido comandando a sua equipe, compromisso com o resultado, mesmo comprometendo a sua própria
saúde.
Memoria
particular 2. Vi, Roberto Reis, sozinho, engatando um cabo de aço em seu carro
particular, rebocando a sua alegoria (módulo) para levar da cidade Garantido
para arena, pois o espetáculo não pode parar.
Memoria
particular 3. Vi, os meus dois amigos, investido suas economias particulares,
familiares no pagamento de suas equipes de galpão. Mais uma vez, o espetáculo não
pode parar, a responsabilidade do contrato era deles, levar a alegoria para
arena,
Depoimento 1. Aprendi com Marialvo – boa vontade e
espirito de equipe -nunca me recebeu de cara fechada, reclamando, de mi, mi, mi sempre atendeu os meus pedidos para
encaminhamento de entrevistas, mesmo nos
últimos minutos, do segundo tempo para entrar na arena, isso é respeito pelo
trabalho em equipe, isso é gestão comprometido, isso é liderança, todos e todas
são importantes no processo.
Depoimento 2. Aprendi com Roberto — não são as muitas
palavras que trazem as verdades nas atitudes de um artista, generosidade no
silêncio diz muito mais sobre quem você é. Em 2016, eu estava na arena (ao
lado do Maurício-cronometrista) e Roberto me pediu água, sair da arena providenciei a água. 10
minutos depois, ele me pediu outra água, novamente, fui buscar. Então, fiquei observando
movimento da arena. Os artistas de ponta, não saem da arena, ficam sem beber
água, o espetáculo todo, imagine o tempo de concentração (eles todos ficam nos acabamentos das
alegorias suas e dos companheiros) deve
desidratar os seres humanos, então, fui procurar um balde, enchi de água e gelo, e ficava
gritando para todos os artistas que passavam próximo de mim... vem
beber água,
aqui, vem logo! Depois disso, não precisava
mais gritar, eles sabiam onde estava a água geladinha, o sorriso e o abraço sincero de gratidão pela
excelente execução de sua alegoria na arena. Isso é !!! Perceber a sensibilidade de um membro da
equipe e sua contribuição ao grupo. Roberto
sabia que por minhas atitudes, eu jamais iria me restringir a servir água só para
ele.
Quanto ao talento de ambos os artistas, sem palavras,
sem adjetivos para descrever... desejo boa sorte, boas lutas, mas sem vitória no campeonato 2022. Amo-os!!!!!