Mostrando postagens com marcador Paulo Emilio Galvão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Paulo Emilio Galvão. Mostrar todas as postagens

Saudade, palavra triste...




Hoje peço licença aos amigos do blog para chorar... Isso mesmo chorar a saudade de Paulo Emilio, meu grande amigo.

Conheci Paulo em 97, no curral do Garantido em Manaus. Parintinense, talentoso, inteligente, polêmico, apaixonado pelo Garantido... Sintonia imediata e perfeita entre nós...
Juntou-se a nós o Salgadinho, outro apaixonado pelo Garantido. Éramos um trio inseparável. Até mais ou menos  o ano de  2001, estávamos ligados diariamente, quer seja por telefone, ou nos encontros nas praças e lanchonetes. Falávamos de tudo, não havia barreiras ou tempo limite para nossas conversas, quase sempre quilométricas.

Nos tornamos uma dupla quando Sal fez o seu caminho de volta para casa. Perda dura para ambos e, na época, motivo para selarmos um pacto: dizer “sempre” da importância de um para o outro. Foram muitas batalhas, muitas descobertas, muitas tristezas, mas também infinitas e inesquecíveis alegrias.

Às vezes ele me perguntava: por que as pessoas olham pra mim e acham que estou com raiva sempre? Eu respondia na lata: Pqp, Paulo, você não sabe sorrir, fala alto demais e critica muito... Ele sorria meio sem graça e dizia: não fiz curso de ator, não posso fingir emoções. Mas eu sabia que criatura doce, maternal ele era... Sabia também que ele vivia uma profunda solidão...

Em sua trajetória, acompanhei a chegada e partida de muitos amores, dei palpites na construção da casa nova, na escolha dos nomes dos cachorros, discuti projetos dos quais não sabia bulhufas, mas que ele me detalhava com uma alegria juvenil.  E eu entendia na hora o que o meu amigo “megalomaníaco”, era  assim que os menos próximos classificavam o Paulinho, não conseguiam enxergar:  a visão futurista do grande arquiteto. Ele via sempre o futuro, o crescimento das cidades, da população e para tanto previa soluções. 

Em 2012, fui passar as férias em Manaus e mais uma vez meu amigo me fez mimos, foi ao shopping, ao Largo de São Sebastião, ao cinema, tomou sorvete, comeu pipoca  e ainda se propôs a comer caldeirada, o que até então não era a sua escolha preferida de culinária regional. Mas EU estava em Manaus, eu, a sua melhor amiga, sua companheira de tantas horas, aquela amiga que estava com a mão estendida sempre, com os braços abertos a toda hora... E ele sabia como poucos me fazer mimos e sacrifícios.

De minha parte, a recíproca era mais que verdadeira. Nos meus planos de ser feliz, ele desenhava a minha casa, planejava meu sonhado jardim de inverno, tomava banho de mar, pegava uma cor nas praias do Recife e festejava  mais uma vitória do Garantido, e desta vez no ano do centenário.

Agora, no auge do desabafo, eu te pergunto: Mas, Paulo Emilio Rodrigues Galvão, você não poderia ter me avisado do seu estado de saúde? Você não teve como me ligar do hospital? Foram trinta dias em um leito de hospital solitário, sem a minha mão quentinha, sem a minha presença quieta, velando pelo teu sono, ouvindo as tuas histórias, tirando o sorriso escondido do teu peito cansado, suavizando esse momento pessoal e doloroso.

Mas que droga de egoísmo! Que solidão é essa que afasta de ti quem te ama tanto quanto eu? Mesmo assim, após chorar horas e horas, canto bem baixinho nossa toada preferida, Luzes rubras... ” Quem não sonhou com as luzes rubras, iluminando o Garantido numa noite de esplendor. Quem acordou com a toada no embolo anunciando que o meu boi chegou “...

Durma bem meu amigo, tenha o descanso dos justos, daqueles que viveram a vida com a grande dádiva da honestidade e do caráter...
Saudades eternas...
De sua  amiga,
 Lydia Lucia.