Saudade de Parintins

É junho... graças a Deus, cheiro de coisa boa no ar, o colorido das bandeirolas e os balões nas vitrines desenham um sorriso sutil em meu rosto... Sinto saudade de casa.

A foto postada me leva à minha festa junina, a minha brincadeira de Boi; fui transportada para 1996, na Praça do Cristo, ao lado do meu querido Raul Góes... Gargalhando das minhas infantilidades sobre politica bovina, me achando a mais sonhadora das Alices. Eu, sonhando com mil projetos sociais para o Garantido e para o povo da Baixa, (sonhos de nova associada), ficava indignada; doidinha, nem sabia que ele só queria me preservar das desventuras que o futuro me traria, das traições e calúnias que sofreria.

Viajar de barco para Parintins era o máximo que poderíamos sonhar... Impagável a dança noturna das redes no barco do Mag, e as conversar fiadas no bar... Os fogos de artifícios nos recebendo como personalidades importantes do Festival. Muitas vezes eu chorei ao receber tanto carinho ao chegar à ilha.

Parintins era pura poesia. A primeira vez que comi bodó foi na casa da Natila, pescado e assado na hora. Mas a noite o ponto de encontro era no Americano. Paulo Emilio e eu, por fidelidade ao bar, tornamo-nos sócios, com direito a cadeira cativa e muita fofoca dentro e fora da temporada do boi. Eu tinha tanta moral, que ouvia Zé Ramalho, enquanto a cidade toda ouvia as toadas dos bumbás.

E o Ronam? Meu motorista de sempre, bastava ligar e avisar, “estou chegando!” e pronto! A pousada estava reservada, motorista no cais, e todas as novidades das personalidades da Ilha... Quem chegou, onde estava hospedado, e é claro aquelas coisas inconfessáveis de Parintins... Quem dormiu com quem, e quem ficou acordado (a) esperando quem... Nunca foi fofoca! Sempre era atualização de movimentação da Ilha. ADORAVAMOS, vivíamos cada minuto em Parintins.

Mas tem uma lembrança que jamais em tempo algum vou esquecer... Em uma das noites da alvorada do Boi, íamos caminhando lentamente seguindo o mar vermelho, em romaria , quando de repente, o Ray Monteverde me pegou pelo braço e disse: vamos vaqueiro vá trotar agora!... Como? Quem? Eu? Isso mesmo eu fui levada pelo coro, vai , vai você consegue, e pronto! E fui metida como sempre tentando dar aqueles pulinhos da vaqueirada em plena Rua Amazonas. Ainda bem que era só a nossa brincadeira de boi, era uma farra, eu só errava e levava chibatada do Ray (que hoje me lembra o bicho papão do filme Monstros S.A.).

E as imagens voltam com tanta intensidade que dói.

Como marca dos amigos de sempre (foto), ofereço Tadeu Garcia com a sua poesia LUZES RUBRAS.

Quem não sonhou com as luzes rubras
Iluminando o Garantido
Numa noite de esplendor
Quem acordou com a toada no embolo
Anunciando que o meu boi chegou
Os fogos de artifício começaram a explodir
O rubro mais intenso estará no céu
Mantendo as nuvens brancas no brilho do gel
É um véu da ansiedade que envolve em mim
O suspense de quem sempre espera por amor
O mundo de vermelho entra em turbilhão
A pele arrepia neste vendaval
Os olhos se transformam em bolhas de cristal
O som da batucada vem á audição
Bater muito mais forte no segredo de amar
Perceba na alma todo sentido, amor
É a sensação que ele chega à perfeição
Enquanto um brinquedo me torna criança
Não envelhece no tempo a lição
Vou brincar
Um passo ainda suave quer acelerar
Numa sincronia que o povo encarnado
Faz-se um corpo de dança
E canto esta toada
Como a mais bela inspiração de amor
Ao boi que um dia
Na alegria da infância me apaixonou.


OBS.: respondendo à minha querida Charlene,

Amiga, eu ouvi aquela coisa sem graça... a tal miss enganação...Fofa aquilo não é parodia nem aqui, nem em Parintins e nem na China... Aquilo é uma tentativa vulgar de ser engraçado... Mas aguarde! “Toada de desafio”, como sempre, vem do nosso lado criativo, de alto nível, o lado do Boi Garantido...