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HISTÓRIAS E ESTÓRIAS NO FOLCLORE DE PARINTINS. CAPÍTULO II – CONTOS E CAUSOS DOS ENCARNADOS


por Tadeu Garcia 

 1. PITOMBEIRA. Uma figura emblemática dos anos 70, construía toadas de improviso que não se constituíam versos, na acepção tradicional, era do time de pândegos da cachacinha diária formada por Lindolfo, Ambrósio, Porrotó, Vavazinho, Antonico – chefe dos vaqueiros, Amâncio, Romero Santiago (meu tio), Tamborete (pai de Chico da Silva), etc. Sua performance anarquista gerava risos inesquecíveis nos meus tempos de primário no Grupo Araújo Filho, elaborando e declamando as anedotas sobre os contrários sempre de forma direta e simples. 

E um dia, as 11 h da manhã, viram Pitombeiras estourar o arsenal de protestos na Ilha de Parintins em um curto trajeto, pois saiu calibrado do Bar do Pedrão e seguiu pela Rua Jonathas Pedrosa, onde, à época, existiam 3 (três) instituições públicas com distâncias, entre si, de pouco mais de 150 metros. 

1º - SAAE – recém-fundado, responsável pelo sistema de captação e abastecimento de água na cidade. Ao chegar à frente do SAAE, atraiu os funcionários aos gritos: EM PARINTINS NÃO TEM ÁGUA! NÃO EXISTE ÁGUA EM TODA A ILHA, ESSE É UM SERVIÇO MUITO FULEIRO!! 

2º - FÓRUM DE JUSTIÇA – Com porta larga, ele ficou no batente e soltou o verbo: NESTA TERRA NÃO SE FAZ JUSTIÇA; PARINTINS TERRA DE INJUSTIÇAS! MORRA ESSES DIREITOS TORTOS E MORTOS! 

3º - DELEGACIA DE POLÍCIA – Exatamente em frente ao fórum, na Jonathas Pedrosa esquina com a Avenida Amazonas, onde Garrafa N'água era o plantonista aparece e Pitombeira não perde a pose: AQUI É O RESUMO DESSA POUCA VERGONHA, NESTA DELEGACIA NÃO SE PRENDE NINGUÉM: NEM PREFEITO LADRÃO, NEM PASTOR LADINO E NEM MONGE FOFOQUEIRO! 

2. PAULINHO “DU” SAGRADO: O folclore encarna no raciocínio rápido e perspicaz do compositor de alma vermelha. Éramos parceiros em 1999 e o pau quebrou com o presidente Raul Góes, na Baixa do São José, onde nunca se faz segredo, nem rege a Lei do Silêncio. Tadeu Garcia abandona e vai fazer seu segundo disco: Imaginário e DU SAGRADO vai para o contrário armado com a toada bem sucedida: Terra é Azul. 

E encontro no livro do Aldisio Filgueira - Romanceiro de Parintins - aquela passagem memorável de cobrança de uma das mais saudosas, ferrenha e fanática torcedora do Garantido, jornalista ELAINE RAMOS, cujas expressões para defesa do Garantido, sem sutilezas, pareciam os Monteverde em dia de confraternização que termina em bordoada. 

Elaine Ramos pega o DU SAGRADO no contrapé: VEM CÁ OH BONITINHO, QUERO EXPLICAÇÕES CONVICENTES PARA ENTENDER PORQUE, AGORA, VOCÊ ESTÁ NAQUELA VACA PRETA? 

SAGRADO, rápido, sutil e rasteiro sai pela Culatra: MANA, EU NÃO SEI EXPLICAR – QUANDO EU VI, EU JÁ TAVA! 


No ano seguinte, a Assembleia do Garantido é um quiproquó! Pois no retorno do DU SAGRADO, o presidente lhe deu um tratamento diferenciado, por merecimento. Só não saiu estilhaço de vidro porque as Kaiser são em latinhas. Os verdadeiros detratores se escondem, o presidente se explica, mas um orelha pau mandado dirige a palavra ao Sagrado, este encostado numa coluna de alvenaria, comportado em seu óculos escuros a John Lennon e pergunta: 

E agora Sagrado, tu não te explicas? 

Sagrado, abaixa o óculos e solta o verbo sintetizado: EI VELHO! SE MANQUE! QUEM FAZ TOADA NO NÍVEL DO ROMÁRIO, NÃO PODE RECEBER COMO O ODVAN! 

Obs: 

1. Como não choveu e somente houve apagão deixo o Capitulo III para próxima. 

2. Paulinho Dú Sagrado e Chico da Silva são dois baluartes das toadas e sobrevivem de música, por isso merecem transitar com liberdade nos dois bois e, mais que isso, o respeito e admiração de todos os torcedores. 


Paulinho sempre DÚ SAGRADO

No compasso da emoção 

Ao longe ouvi ressoar
Os tambores do Boi Garantido
Chamando outra vez o seu povo aguerrido
Pra um novo duelo travar
Bandeiras se agitam no ar
Onde ecoa um canto bonito
Da minha galera
Em pleno delírio ao ver seus brincantes
Na arena chegar
Rufa, ribumba tambor faz tremer este chão
Bate meu coração no compasso da emoção
Reina meu Boi Garantido
Maior dos bumbás
Mostra pro mundo esta festa
Dos tupinambás.

Acredito que todos os torcedores do Garantido, os normais e os LOUCOS TORCEDORES como eu, cantam a plenos pulmões a toada “no compasso da emoção”. Eu choro, desafino, viajo no compasso... TOADA é isso! É emoção pura... E, se a batucada é o coração do nosso boi, as toadas atuam como SANGUE, fazendo pulsar esse frenesi que percorre nossos corpos, vibrando no ritmo dos toques do tambor.


Estou inspirada? Sim, claro. Meu post hoje fala de um homem pequeno, cabeludo, que ao falar dá a impressão de estar sempre tirando um sarro de tudo... PAULINHO DÚ SAGRADO.


Conheci Paulinho em 97. Viajávamos juntos no barco do MAG, com destino a Parintins. Muito tímido, me deu uma aula de inspiração. Essa conversa foi transcrita para um projeto “jornal do MAG”, nunca foi publicada, mas nossa amizade ficou estruturada naquele momento...


O jeito nasal, tipo de quem masca chiclete ao falar pronunciando “Lydia Lúcia”, jamais foi esquecido. Contou-me várias histórias:


Quando foi Jesus Cristo e saiu cobrindo na porrada o soldado romano que insistia em lhe chicotear; o seu medo helênico de visagens... Alertou-me logo de cara... Lydia Lucia toma cuidado em Parintins, tudo vira lenda! Tipo assim, é uma lenda que eu tenha que “fumar” para poder ter inspiração. Isso é lenda, pois eu já nasci inspirado.


E hoje, eu me pergunto cadê Paulinho? Cadê o Dú Sagrado? Gente talentosa como ele não pode se calar, não pode aposentar a caneta...


Paulinho está no meu coração e, tenho certeza, no coração agradecido de toda a galera vermelho e branca que conhece e valoriza a história de seu boi campeão.


Paulinho Dú Sagrado pertence à galeria dos grandes compositores do Garantido. Precisamos continuar a valorizar essa qualidade sanguínea, emocionalmente vital para embalar poeticamente o nosso supremo amor por nosso boizinho, nosso brinquedo de São João.